quarta-feira, 5 de outubro de 2011

PARADISE NOW!


Produção palestina, 2005, de Hany Abu-Assad, com Kais Nashef e Ali Suliman (respectivamente: Said e Khaled)


Kais Nashef

CENA FINAL/CLÍMAX 

   Dentro de um ônibus lotado, tanto por civis quanto por militares fardados, está Said, sentado ao fundo, com um olhar fixo no em direção ao nada. A câmera vai com um zoom in em direção a ele, tomando-o em: um plano médio, depois um close-up, logo um close-up extremo e por fim pára num plano detalhe que enquadra apenas os olhos e as sobrancelhas de Said. Os olhos verdes de Said estão tão cheios de sentimento que nada nos dizem por linguagem que possa ser transcrita. Aqueles olhos penetram tão fundo o espectador que incomodam, não há como estar indiferente; eles suscitam reflexões sobre a condição (des) humana daquela população, que prefere a morte a viver como prisioneiros de um regime tirano, sangrento e opressor.
   O olhar de Said dá voltas no cérebro de quem o observa; são olhos inquietos dentro de uma enorme quietude-apática, são olhos de quem acha que sua vida não resolverá questão nenhuma, mas que sua morte trará, ao menos, repercussão para sua causa. Olhos inertes que gritam!

Só escolhemos a amargura quando a alternativa é ainda mais amarga. – trecho de diálogo retirado do filme


 PARTICULARIDADES EM FOCO 

   Ausência de Música Não-Diegética e o Silêncio do Personagem Principal – Durante todo o filme prestei especial atenção ao som, por ter uma característica peculiar e marcante. Ruídos diegéticos e falas se fizeram constantemente presentes, mas já músicas não-diegéticas não aparecem em momento nenhum, durante os 88 minutos. Logo no início da película consigo ouvir, muito misturado a barulhos ambientes, o som de um rádio, na oficina mecânica, que toca algo ruidoso. O segundo “momento musical” se dá quando o próprio Said põe uma fitinha de Suha para tocar enquanto conversa com Khaled no alto de um morro. A música pode ter vários significados, dependendo de seu ritmo e do contexto em que é inserida, mas nesse caso vejo uma opção do diretor junto ao sound designer de optar pelo extremamente real. A ausência dessa solução narrativa, que, muitas vezes, guia a percepção dos espectadores, significa que nada distrairá o público e que este deve sozinho, perceber o filme, de maneira natural. A música poderia tirá-los da interação com aquela realidade constantemente tensa e divergente de grande parte dos espectadores. 
 Said é um espelho de vários jovens que habitam a região, e seu silêncio esmagador, sua falta de vontade de ser ouvido e de formular soluções para a situação em que se encontra seu país, é transmitida através da sua não-voz. Said se expressa por gestos e expressões, e no fim através de explosivos.
“- O que acontece depois? - Dois anjos virão buscá-los– pergunta de Said à Jamal no caminho para a fronteira.

   Figurino como Alterador da Ordem Natural – O figurino é simples e natural durante o quase todo o filme. Achei interessante pontuar que ao prepararem-se para o grande plano de ataque, os jovens passam por transformações de ordem externas também. O terno, a falta de barba e os cabelos quase raspados, denotam tais mudanças. Em vários momentos do filme podemos perceber a influência do figurino no comportamento/reação dos personagens que interagem com os jovens e que não sabem quem são eles, ou o que estão fazendo.

Ali Suliman
   A exemplo disso, ao ver Said de terno, barbeado e sem os cabelos cacheados, seu chefe o pergunta “Problemas? Porque o terno?”, o motorista de taxi tece comentários a respeito da formalidade da vestimenta do rapaz e a mãe de Khaled pergunta se Said iria se casar. O ponto de maior significação, no entanto, do figurino se dá quando Suha percebe que os dois não podem estar vestidos da mesma maneira (maneira essa que os tornava parecidos com os israelenses) à toa.



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